Aconteceu, despedi-me.

20 de Janeiro de 2020

Este momento está a acontecer a um ritmo intenso desde o início da pandemia, principalmente nos quadros de topo, principalmente com mulheres.

Mais de 50 anos para a mulher conquistar um papel profissional relevante na sociedade, para poder votar, trabalhar, para contribuir ativamente para a mudança das organizações e do mundo, e 2 anos de pandemia chegaram para dar um abanão valente nesta conquista.

Cada vez mais mulheres abandonam cargos de liderança porque estão à beira da exaustão, do esgotamento. Tiveram de provar (ainda mais) do que eram capazes, tiveram de conquistar (ainda mais) a confiança dos pares que já tinham alcançado.

Mal de quem não atenda o telefone seja a que horas for ou não veja e responda a e-mails às 10h da noite, com ou sem a tal “Lei”.

Para agravar a situação, a “invisibilidade” da internet fez com que surgisse uma espécie de “bulling de luva branca”, com muitas mulheres a relatar que foram “acidentalmente” excluídas de reuniões e decisões, assim como silenciosamente sobrecarregadas com trabalho extra que se forçam a aceitar sem reclamar com receio de perder o cargo. A este cenário juntou-se o duplicar das tarefas domésticas e o papel adicional do apoio aos filhos em casa.

Ninguém aguenta, nestas circunstâncias nem a Catwoman quer ter uma carreira!

Pelo LinkedIn as histórias multiplicam-se, com celebração da comunidade e votos de admiração pela atitude heroína e inspiradora de quem larga tudo.

Sem dúvida inspiradora, mas como Coach e alguém que estuda o desenvolvimento espiritual do Ser Humano, questiono-me até que ponto a decisão foi realmente tomada pelos motivos certos.

Desistir porque chegamos ao limite é legitimo, e é uma questão de sobrevivência, de saúde mental, mas é certo que uma das características da natureza feminina é a de querer ser “perfeita”, resulta da síndrome da super-mulher que aguenta tudo nem que para isso tenha de ir ao extremo de si mesma para depois não ter outra opção que não seja largar tudo.

E depois o que acontece quando tomamos decisões destas?

Acontece que muitas vezes não é o paraíso agraciado pelas cores do arco-íris e pelo som dos anjos a tocar harpa que corre na imaginação de quem lê os posts. A conquista do medo de tomar a decisão de se despedir provoca nos meses seguintes momentos de adrenalina, faíscas brilhantes de libertação e de esperança. Momentos cheios de bem-estar nos quais nos sentimos inspiradas pela coragem de escolher ter tempo para nós, para outros interesses, para a família.

Mas muitas de nós passado algum tempo estamos à perna com uma nova crise, uma crise de talentos, de propósito, de valor próprio, de vazio.

Tivemos mais tempo para nós e para a família, mas passámos em casa a ser a pessoa “disponível”, afinal de contas não temos que ir para o escritório nem temos obrigações.

Sentimos a necessidade de reconectar connosco, com quem somos, de investir no nosso desenvolvimento, no nosso bem-estar, mas o tempo vai passando e não estamos a conseguir encontrar o caminho.

E eis que mergulhamos num vazio povoado pela falta de direção e por uma névoa que nos impede de ver claramente a estrada para o futuro desejado. A angústia, o medo e a depressão espreitam aqui e ali, ameaçando o nosso sentido de valor, a nossa autoconfiança, a nossa autoestima, o nosso equilíbrio. Por vezes queremos voltar atrás, ao porto seguro de onde partimos e onde tudo estava organizado, mas isso também já não é opção.

Sem querer desmotivar procuramos respostas, alguém que nos diga para onde ir, quem somos e o que viemos cá fazer. E nada. Uma centelha de entusiamo acende com experiências, cursos on-line e workshops, mas só enquanto duram.

O mesmo vazio volta para bater à porta poucas semanas depois.

E agora como avançar?

Uma crise profissional é o equivalente ao que na antiguidade se chamavam testes do “Fogo”. São momentos na vida em que temos de largar lastro e despedir-nos de ilusões e de miragens sobre nós, sobre a realidade interna ou externa, ou sobre os outros.

São testes de evolução, já não é possível voltar atrás, seja qual for a razão que nos levou a esta crise.

Trata-se de rituais de passagem no panorama da vida, momentos de viragem no desenvolvimento mental, emocional e espiritual. São testes de maturação e encerram em si um potencial imenso de crescimento interior.

Mas passar por testes de Fogo sem o enquadramento do seu significado encerra também um outro potencial, o de nos consumirmos nas chamas durante o processo.

Se estás num momento de equacionar uma mudança, o que te proponho é que façamos essa passagem em conjunto, em consciência, procurando o significado para que dê frutos. Eu não creio que uma mudança compensadora, sustentável e consciente se faça através de fórmulas instantâneas ou milagres fulminantes, essas nem em dietas resultam.

Um teste de Fogo pede que questiones a tua vida sem julgamentos para ir ao encontro da tua verdade interna, com curiosidade sobre o caminho onde estás, abrindo possibilidades, sabendo que nada nem ninguém vindo de fora te trará respostas, mas que tu as tens.

Agora é compreenderes: o que fez com que chegasses a este extremo? Qual é a aprendizagem aqui?

Agora é perceber: que mensagem traz realmente esta crise? O que em ti quer florescer?

Agora é questionares-te: o que na vida te alimenta corpo, mente e espírito? Que escolhas fizeste que deixaram de te alimentar?

Agora é descobrir então para onde vais, porquê e para quê.

E pores os pés a caminho dessa descoberta que te permite voltar a casa. A ti.

A vida não existe para nos servir, para nos entreter ou para nos trazer as respostas. Esse é um caminho que nos compete a cada um fazer.

E eu estou deste lado, já o fiz, já atravessei esse deserto e sei onde estás.

Conta comigo, vou levantar uma lanterna e vamos juntas, um pé à frente do outro.

Até breve

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